Trilha sonora

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Sem dúvida que as palavras, seus sons e as possibilidades de seu uso são inesgotáveis. Foi nesse caminho que, no início do Século XX, acompanhando as tendências de seu tempo, os compositores e músicos resolveram pensar em uma nova maneira de tratar os sons que constituíam a música. 

Nessa época percebeu-se que qualquer som, e não apenas o das notas musicais, poderia ser utilizado para fazer música. Nesse sentido, muitos educadores musicais da segunda metade do Século XX, os chamados educadores musicais da Segunda Geração, entre outras fontes sonoras, passaram a utilizar o som produzido pelas palavras para criar música.

Um deles foi o compositor e educador canadense Raymond Murray Schafer, que dedicou o capítulo Quando as palavras cantam, de seu livro O ouvido pensante (2011), para tratar dos sons das palavras. Nele apresenta uma série de atividades e jogos com palavras e sons, passando, desde a exploração das sonoridades das sílabas e letras, até o registro das músicas produzidas a partir das palavras.

Um dos exemplos que ele dá é o do poema sonoro, em que os alunos têm apenas que ler um poema em voz alta:

“Algumas vezes, cubro o quadro negro de expressões, como as que aparecem na ilustração a seguir, e peço a classe que às execute a medida que são apontadas. Com dois ou três regentes apontando para as várias expressões, e dividindo-se a classe em grupos, as complexidades de som vocal que podem resultar são inesgotáveis” (Schafer, O Ouvido Pensante, 2011).

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Exemplo de possibilidades sonoras para leitura do poema (Schafer, em O Ouvido Pensante, 2011)

Dica: Trilha sonora!

O desenho sugerido pelo autor pode ser transformado em uma “trilha sonora”. Para tanto, basta transcrevê-lo no chão da sala de aula, permitindo que os alunos andem por cima dele como em uma trilha, variando a maneira de ler o poema conforme passem pelas palavras suspiro, risos, murmúrio, uivos, grito, soluço, etc. Dessa forma, a dimensão da espacialidade é acrescentada à atividade sonora musical.

Um livro com interessantes poemas para realizar essa tarefa é o Ciranda das letras: a poética do alfabeto, de Noemi Nascimento Ansay. 

Veja este, criado com base na letra P: 

PARAFERNÁLIA

“Paradoxo na poesia,

dos paralelos planetários,

dos pirilampos na praia,

do pianista que partiu,

da palidez do pinheiro,

da panaceia para os pesares,

das pétalas para os pêsames,

da paranoia por palavras,

da pausa na partitura” 

Nessa atividade, aparentemente não musical, busca-se desenvolver as texturas e timbres sonoros, pois ao aplicar expressões como sussurros, assovios, risos e gritos, no momento da leitura do poema, produzem-se inflexões na voz falada, inflexões estas, que proporcionam cores variadas aos sons das palavras. Ademais, ao separar esses timbres sonoros em grupos pela sala, produz-se um efeito de sons diferentes acontecendo ao mesmo tempo. Esse recurso é muito utilizado em música, como por exemplo, quando instrumentos musicais com sons diferentes ou as vozes de um coral são emitidos simultaneamente. 

Assim, partindo da leitura de um texto de forma simples e divertida observa-se como é possível vivenciar e aprender sobre diversos conteúdos musicais.

Tiago Teixeira Ferreira é educador musical, pesquisador, clarinetista e regente. Licenciado em Educação Musical e Mestre em Música, dedica-se à pesquisa de práticas criativas em Educação Musical e como elas podem auxiliar nos processos de aquisição da linguagem da música. Ainda, pesquisa a respeito de processos de aprendizagem musical em propostas coletivas de ensino de música. É integrante do G-PEM (Grupo de Pesquisa em Educação Musical), atua como clarinetista em uma Banda de Música Militar, é membro do Seminário Permanente de Regência MUSICAD, além de coordenador pedagógico, professor e regente em projetos sociais de ensino de música.

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